Há anos se fala que o Rio de Janeiro vive em clima de guerrilha urbana. Pelo que temos visto nos últimos dias, parece que o governo daquele Estado resolveu acreditar nisso e agir sob essa perspectiva. Uma ação policial agressiva e permanente, em torno do Complexo do Alemão, tem impressionado o país. E os narcotraficantes têm sofrido prejuízos reais, perdendo armas e grande quantidade de munição, além do melhor, que é o impedimento à comercialização da droga. Este deve ser o principal objetivo do governo. Se os traficantes não venderem, ficam sem dinheiro e, com o tempo, sem munição. É como cortar as raízes de uma árvore frondosa. Ela pode resistir por muito tempo, mas vai acabar morrendo. Definhará e morrerá.
Daí vocês podem concluir que, como cidadão deste país, apoio a iniciativa do governador Sérgio Cabral de determinar a operação policial ora em realização. Confesso que esse moço me surpreendeu positivamente. Afinal, quem poderia esperar que um político do PMDB, e no mesmo Estado que já pariu o falastrão maluquinho César Maia e o casal Garotinho, pudesse manter um discurso sereno e, em pouco tempo, apresentar resultados iniciais promissores para um problema tão urgente, que é de interesse nacional?
A preocupação é com os excessos da polícia, mas como se pode afrontar o terror do crime organizado com ações modestas e não violentas. Por mais pacifistas que sejamos, por mais aferrados aos valores humanitários de nossa Constituição, por mais empenhados em torno da legalidade, é inevitável que o combate à guerrilha carioca seja feito com uma energia incomum para um país que, oficialmente, desconhece guerras e prefere resolver tudo numa mesa de bar ou num campo de pelada.
Odiamos a violência. O grande paradoxo está, justamente, em precisarmos dela para reagir a ela. Que outros caminhos temos? Sem o uso da força, neste momento, não há projeto de educação, assistência social ou do que quer que seja capaz de dar certo. Se eu estiver sendo simplista, por favor me avisem.
Por outro lado, não podemos olvidar que o sucesso dos traficantes se deu não apenas graças à violência, mas à inteligência de gastar dinheiro fazendo aquilo que o poder público se recusava a fazer. Com investimentos na favela, com distribuição de remédios, brinquedos e eletrodomésticos, dentre outros mimos, fizeram as comunidades perceberem que era melhor estar do lado deles do que da polícia, que chega metendo pé na porta e barbarizando inocentes. Quem disse que eles não entendem de marketing pessoal?
Não à toa, nos conflitos desta semana, populares disseram à Comissão de Direitos Humanos da OAB que algumas das vítimas haviam sido mortas a facadas, fato desmentido pelos médicos que receberam os corpos. Havia exclusivamente marcas de balas. Ou seja, as testemunhas mentiram e só posso entender que assim agiram para reforçar a idéia de que a polícia se excedeu. Atrapalhando a ação policial, quem se beneficia?
Sem dúvida, a guerra que corre por baixo do tiroteio é ainda mais dura e ardilosa do que a da violência em si. Estará o poder público, estarão os cidadãos aptos a lidar com isso?
3 comentários:
Concordo com o teor do post, infelizmente a polícia tem que ir super equipada e preparada para tudo para enfrentar os traficantes, não tem outro jeito.
Quanto a população da favela apoiar os traficantes, é mesmo porque eles é que os socorrem quando nescessitam de assistEncia médica e outras.
Tenho só um paretese a fazer, que é em relação a sua surpresa com as atitudes do governador, visto que tem um pares no seu partido que são de matar. Fica claro para mim, cada vez mais, que não existe ideologia partidária neste país, portando existem pessoas boas e más em todos os partidos. Acho deveríamos deixar de nos reportar ao partidos políticos, a "tucanos", "democratas", "petistas", etc. e sim malhar ou elogiar os próprios.
Partidos no Brasil, é só uma forma de posicionamento dentro da política, daí a grande dança das cadeiras.
Yúdice, os traficantes de drogas se instalaram nos morros da Cidade Maravilhosa graças também à permissividade de um político que por muitos (mas não por mim) é considerado um exemplo de honestidade e coerência: Leonel Brizola.
É regra condenar quem fala de um morto;porém, este julgamento histórico tem que ser feito - até porque falo de seus atos como homem público, e não de sua vida privada. Brizola, quando governador do Rio de Janeiro, garantiu espaço para o jogo do bicho e meliantes anexos, inclusive em eventos públicos do Estado. Vem de seu mandato o encastelamento do crime organizado nos morros do Rio, a partir do acordo que fez com os bicheiros para sua eleição, em 82 (ou 84, não sei bem).
Sérgio Cabral toma uma atitude arriscada, mas talvez seja a única possível para tentar livrar uma cidade tão linda deste câncer nefasto que assola, transmformando-a novamente em um lugar em que qualquer um gostaria de viver.
Cara Ana Paula, filio-me à corrente segundo a qual o desenvolvimento político de um país depende do fortalecimento dos partidos. A ênfase em candidatos é um indicativo de atraso, como se pode perceber através de estatísticas. Veja que os países mais pobres tendem a votar em pessoas, dando margem aos salvadores da pátria. Já os países desenvolvidos, todos, baseiam-se em partidos fortes, com orientações teóricas próprias. No Brasil, como você diz, todos são iguais, inviabilizando essa idéia e, por conseqüência, a moralização de nossos governos e parlamentos.
Francisco, certa vez li um interessante artigo sobre a contribuição que a classe artística deu à difusão das drogas no Rio, vendendo uma imagem de sofisticação em ser usuário. Mas desconhecia a contribuição de Brizola nesse processo. Obrigado pela informação.
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