quinta-feira, 21 de junho de 2007

Afofando a cabeça II: vazamento de caulim

A Imerys Rio Capim Caulim, de Barcarena, pensa que nóis semo tudo índio. Só pode. Botam no ar, em plena TV e na hora sagrada da minha refeição, um informe publicitário que abusa do direito de ser mentiroso, cínico e cretino.
Mostrando imagens aéreas supostamente gravadas no último dia 17, afirmam que a cor branca da água já está se dissipando e que isso ocorre "com a maré". É claro que ocorre. Estamos falando de água. O caulim excessivamente concentrado vai-se alastrando para regiões mais distantes. Quanto menos concentrado, mais clara a cor da água, mas nem por isso o caulim desapareceu pois, que me conste, ele não evapora. Ou foi para longe ou se depositou no leito dos rios. Ou seja, a poluição só não está mais visível, porém existe.
Afirmam também que o caulim é uma argila natural e, portanto, não polui. Pode ser. Omitem, entretanto, provavelmente por mero lapso, que os produtos químicos usados para o seu beneficiamento desaguaram na natureza junto com ele. Tais produtos são nocivos à saúde, o que motivou a declaração de peritos, divulgada ontem, de que dois igarapés já podem ser considerados mortos, na medida em que os índices de oxigenação e salinidade estão em níveis que inviabilizam até a vida microscópica.
Por fim, a empresa afirma que cumpre todas as normas ambientais. Ela é a única que pensa assim. Afinal, já foram registrados anteriores vazamentos, de menores proporções, bem como os produtos químicos estavam misturados ao caulim, nos tanques de contenção, por um defeito operacional.
Senhores empresários, se os senhores afofam as cabeças antes de dormir, eu não.

3 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice,

Nesse segmento, toda empresa está sujeita a protagonizar desastres ambientais.

No caso da Imerys Rio Capim Caulim, o problema é querer negar a contaminação das águas. A atitude digna e honesta da empresa deveria ser admitir a poluição e afirmar que está mobilizando todos os seus esforços para evitar que novos acidentes aconteçam futuramente.

Esse deveria ser o teor do referido Informe Publicitário, ao qual eu também assisti. Errar é humano. Negar o erro é safadeza.

Um abraço!

Adelino Neto
http://www.coisasdebelem.blogspot.com/

Aldrin Leal disse...

Yudice,

Eu vou fingir que estou no senado e dizer: "Vamos com moderação". Eis, que nào posso afirmar. O que percebo, porém, é um interesse bastante renovado do Liberal no Meio Ambiente (vê, daqui a pouco vão cobrir no Telejornal o novo Canteiro Ecológico - De Grama -, da Duque!), o que, na medida que é esperado, diria que é até válido.

Como é de direito também a Declaração da Imerys.

Caso um dos dois estejam se omitindo, das duas uma: Você pode apelar pro CONAR e suspender a propaganda, na medida que você possua argumentos que, de forma conclusiva, invalidem os argumentos apresentados.

O Xis da Questão é: Eu não tenho juízo pra afirmar isto. Vou deixar pra justiça? Sim, claro. Mas neste interim, vou depois consultar a autoridade doméstica (leia-se: mamàe), que ela pode me apontar os bancos de dados que possuem esta informação, visto que Biosegurança é uma das Artes Marciais que a supracitada domina.

Yúdice Andrade disse...

Concordo, Adelino. Mas é justamente esse o problema dos canalhas: pensar que todo mundo é idiota e somente eles são espertos.
Caro Aldrin, o indivíduo cansado dentro de mim não entendeu muito bem o seu comentário, mas acho que você foi suave com a Imerys. Claro que ela pode e até deve se defender. Todavia, acima de tudo ela devia impedir que danos evitáveis ocorressem e, se ocorreram, devia ter uma postura digna em relação a eles. Infelizmente, o CONAR existe apenas para publicidade comercial e não para esses "informes publicitários", cuja responsabilidade é estritamente do requerente, segundo entendo.