Desde 2000 se grita neste Estado que a Estação das Docas, atualmente considerada o maior ponto turístico da cidade (e de fato deve ser, porque é o único local à beira da baía onde podemos andar sem medo imediato de assalto, tendo algumas, ainda que poucas, opções de lazer), foi absurdamente superfaturada pelo governo, à frente aquele arquiteto que se considera Da Vinci re-encarnado.
Como o tucanato se caracterizou pela deificação de seus representantes — os governadores e seu secretário de cultura eram criaturas divinas e por isso infalíveis, como muitos os consideram até hoje —, o efeito prático disso foi a blindagem que os protegeu de toda e qualquer investigação por seus atos. Todo mundo parecia estar a serviço do Executivo.
Mas as coisas mudam. E é por isso que aprecio a vitória de Ana Júlia. Mesmo sem fazer um bom governo, só o fato de mudar o comando da malandragem já é bom, porque traz à tona todos os os desmandos do passado. Após sete anos de enrolação, de prevaricação, finalmente a investigação em torno da portentosa obra saiu do zero. Acatando requerimento do promotor de justiça Carlos Stilianidi, o juiz da 10ª Vara Penal de Belém, Jorge Luiz Lisboa Sanches, determinou a abertura de inquérito policial.
Pode até não dar em nada, mas pelo menos os mortais saberão que são mortais e que não estão acima do bem e do mal. E agora sem foro privilegiado.
Não emitirei juízos de valor fundados no Direito sem conhecer fatos. Por isso, ponho-me a esperar o curso dos acontecimentos. Por enquanto, só comemoro os ventos de mudança.
Já disse algumas vezes e repito: num país como o Brasil, em que as pessoas sentem orgulho de ser pilantras, em que as autoridades necessitam privatizar tudo que é público, o revezamento no poder é requisito indispensável, se não à democracia (que aqui é de fachada), mas à própria sobrevivência da sociedade.
Acréscimo em 21.9.2011
Creio que não surpreenderá a ninguém eu dizer que, bem, o inquérito policial não deu em nada. Nunca mais se ouviu falar do assunto. Deve ser porque toda a operação estava absolutamente regular. Deve ser por isso.
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