quinta-feira, 14 de junho de 2007

Estereótipos desfavoráveis

Estereótipos são uma praga e, o que é pior, sempre acabam sendo absorvidos pela sub-cultura popular. Daí resulta que

— Os homens são todos iguais
— Mãe é tudo igual, só muda o endereço
— Todo evangélico é carola (e as mulheres se vestem de modo cafona)
— Ou você é Flamengo ou é do contra


e outras asneiras que, dependendo da intensidade com que assimilados, convertem-se em preconceitos, de graves repercussões, inclusive criminais. Basta lembrar que, durante certo momento histórico, acreditou-se numa visão lombrosiana de que os negros eram mais violentos e propensos ao crime — conclusão baseada no fato de que a imensa maioria da população carcerária era composta por negros. Posteriormente, gente séria descreveu o que as pessoas não sérias ainda insistem em negar: que é a exclusão social, a pobreza e a marginalização que desencadeiam não todos, claro, mas uma boa parte dos delitos, senão a esmagadora maioria.
Desses estudos criminológicos surgiu, inclusive, a controvertida teoria da co-culpabilidade, segundo a qual a redução de espaços sociais impele as pessoas ao ilícito, de modo que a sociedade como um todo deve arcar com a criminalidade que ajudou a implementar, ou seja, os delinquentes desse tipo teriam direito à redução de suas penas e, em casos mais drásticos, à declaração de inexistência de crime através do reconhecimento de causas supralegais de exclusão da antijuridicidade.
Este é um tema espinhoso, que não tratarei neste momento. Até porque a postagem assumiu um ar muito grave, oposto ao pretendido. Minha intenção inicial era comentar estereótipos aparentemente mais inocentes:

O que define uma revista masculina?
O conteúdo das publicações classificadas como masculinas sempre apresenta como destaque principal mulheres nuas ou seminuas, em poses sensuais. É a consagração de um dos estereótipos mais poderosos e lamentáveis de todos os tempos: o de que o homem deve tratar a mulher como objeto, pois ela existe para propiciar-lhe prazer. Com isso, cultua-se a beleza (ainda que artificial, das plásticas e, mais recentemente, do Photoshop) e a juventude, atributos da "mulher de verdade". A que você tem em casa não é assim. Logo, os valores da família e a história que um casal constroi em sua trajetória simplesmente não têm valor.
Em segundo lugar vem o esporte. Todo homem tem que ser louco por esporte, principalmente o futebol. Um sofrimento para mim, que não me interesso especificamente por esporte algum e detesto futebol. Isso me coloca numa condição anormal. Este estereótipo custa caro até para mim, que sou homem, além de custar caríssimo para as mulheres, que precisam dividir seus parceiros com o esporte — muitas vezes, posto muito acima delas.
O terceiro tema: carros. Se bem que, nesse caso, deve haver algum fator genético envolvido. Até eu, que odeio tudo que seja massificação, sou muito inclinado a esse assunto. Mas nada que torne obrigatório ler sempre a respeito.
Por fim, surgem outros temas, que compõem o estereótipo de que o homem deve interessar-se por temas importantes (e chatos). Aí surgem a política e a economia. Claro que todos devemos ter rudimentos de conhecimentos econômicos e acompanhar a vida política do país. Mas isso tem a ver com cidadania e não com masculinidade. Portanto, a abordagem está equivocada.
Um adendo: Como é tratado o tema "moda" nas revistas masculinas? Já reparou? Ternos e gravatas. Realmente, o cara que compra uma Playboy está interessadíssimo em termos e gravatas, roupa típica do brasileiro médio...

E o que define uma revista feminina?
Aqui, o estereótipo é muito mais pesado. Tradicionalmente, uma publicação feminina é um repositório de futilidades. Na melhor das hipóteses, de utilidades domésticas, reforçando a condição da mulher de rainha do lar e servidora de seu marido e filhos.
Moda, decoração, maquiagem, culinária e — suprema mediocridade! — fofocas. Que os primeiros quatro tópicos tenham sua utilidade (a culinária é, de longe, a mais importante), tudo bem, mas aqui também o problema é de abordagem. Esses assuntos são mais ou menos importantes para as pessoas em geral, não para as mulheres específica ou precipuamente.
É fato que essas publicações já melhoraram, reconhecendo os novos papeis sociais da mulher. Mas notem como, mesmo sob essa perspectiva, existe o rastro do estereótipo. Fala-se em economia, com ênfase na doméstica. Fala-se em educação, particularmente dos filhos. E até quando se adota a linha tome-as-rédeas-de-sua-vida-e-seja-independente, abordando-se profissionalização, carreira, negócios e viagens, aqui e ali se relembra que as mulheres ainda têm mais dificuldade que os homens em todos esses campos.
Várias vezes comentei que, se eu fosse mulher, processaria essas revistas femininas, por prestarem um desserviço à causa da igualdade entre os sexos.

Se meus devaneios não correspondem aos fatos e minha piscina está cheia de ratos, manifeste-se. Gostaria de conhecer sua opinião.

8 comentários:

Eduardo André Risuenho Lauande disse...

Faça uma visita no meu blog e olhe lá o que escrevi sobre o seu texto.

Anônimo disse...

Yúdice,

Sou leitor diário do seu blog e lhe digo sem pestanejar: seus devaneios correspondem aos fatos, sim!

Tenho uma particular antipatia pela revista NOVA. Praticamente, o único assunto da revista é... sexo, sexo e mais sexo.
"1001 dicas para deixar seu gato louco de tesão" é o tipo de "reportagem" mais comum.

Só posso concluir que o público-alvo de NOVA é o concorrido segmento das garotas de programa.

Tremendo desperdício de papel.

Ah, quero convidá-lo a conhecer o meu blog, "Coisas de Belém":
http://www.coisasdebelem.blogspot.com/

Um abraço e fique com Deus!

Unknown disse...

"- Ou você é Flamengo ou é do contra"(2)

Nisso eu concordo...
"Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer!!!"

passei só pra dar um olho no blog, e o nome desse time tão amado me chamou a atenção, amanhã comento de verdade...

vou dormir, coisa que não faço há 39 horas sem dormir, e haja prova!!!

boa noite, professor!
;)

Yúdice Andrade disse...

Lauande, eu fui. Obrigado.
Adelino, já deves ter encontrado os meus comentários.
Carlos Thiago, o excesso de estudos está perturbando a tua mente. Esquece esse timinho e volta para os livros, rapaz!

Anônimo disse...

Excelente comentário Yudice!!!

Assino o que explanaste nesta postagem e ratifico os argumentos utilizando duas observações que me fizeram refletir, que pro sinal, complementam-se:

1º) Sabes que costumo ler artigos e livros acerca das teorias Nietzschianas. Em suas obras (ou numa delas) vi que ele era contrário ao movimento feminista que crescia à sua época. A princpipio interpretei como a maioria: "Nietzsche é um machista".

Porém ao ler alguns artigos e reler alguns trechos de suas obras, percebi que muito pelo contrário, o que ele criticava era o foco das lutas feministas: "O querer ser igual aos homens."

Procurei então algo que pudesse sustentar uma possível fundamentação e defesa do meu amigo filósofo hehe
Procurei o foco do "moderno movimento feminista", as revistas. Ai vem a minha segunda observação.

2º) Minha querida mãe é assinante da Revista Cláudia há alguns longos anos, e nunca reparei no conteúdo das revistas quando a entregara, a não ser nas belas mulheres na capa (por que diabos até revista para mulheres coloca mulher na capa?).
Porém eu li o subtítulo da revista: "Mulher, mas sem deixar de ser independente".

Posso até ter interpretado de forma errada, mas esta frase me soa da seguinte forma:

"Seja mulher, mas seja
independente".

Ou melhor: "Você pode ser mulher sem se dependende, veja como."

Ao analisar a frase sob a ótica do "marketing" notei que as palavras MULHERES e INDEPENDÊNCIA são as mais fortes e ecoam nas cabeças das leitoras.

Mas o pior ainda estar por vir. na mesma edição que isto está escrito, uma das matérias da capa sugere algo do tipo:
-"10 coisas para fazer seu homem(macho) feliz"
-"Dicas sensuais para conquistar o homem dos seus sonhos"

Parece-me, a princípio como contradição.

Mas qual a ligação disto com o anti-feminismo de Nietzsche?

Era exatamente isto que ele criticava, este feminismo vazio
e contraditório que busca a igualdade inalcançável entre homens em mulheres. Vejo muito pouco a exigência por respeito as diferenças biológicas, psicológicas...
Buscam ser iguais aos homens, serem "independentes" ao mesmo tempo que querem ser "dependentes".

Se mesmo as mulheres querem ser iguais aos homens, por que criticam os machistas?

Eu não sou machistas e estou com o meu amigo filósofo, lutem mulheres, para que cada vez mais vocês sejam diferentes de nós, até porque pleitear que sejam iguais ao bando de estúpido que se tem por ai é burrice.

Nossa acho quem em empolguei, fazia tempo que não comentava hehe

Abraçaao primo!!!

Yúdice Andrade disse...

Primo Jean, já andava tristonho com o teu desaparecimento. Que bom ter merecido um comentário aprofundado. Por mim, podes te empolgar à vontade.
Naturalmente, pensamos da mesma forma. Essas revistas vendem um discurso de autonomia e independência que significa ser qualquer coisa, menos autônoma e independente. Ou seja, vende-se uma imagem de feminismo clássico, com uma prática pra lá de Amélia. Que incoerência! Principalmente quando dão a entender que o objetivo dessas mulheres independentes é satisfazer seus homens.
Curiosamente, as revistas masculins não aconselham os homens a satisfazer suas mulheres. Execto na cama, mas aí certamente por motivação altamente pessoal.

Anônimo disse...

Yúdice, copiando Adelino, "seus devaneios correspondem aos fatos, sim!".
Já havia pensado nisso incontáveis vezes. E, se tratando de estereótipos, não se pode esperar o melhor.
Se tudo isso fosse verdade incontestável, comprovada cientificamente, eu teria nascido com o sexo errado. Deveria ter nascido homem. Adoro política (faço CIências Sociais) e economia, carros, esportes (em especial futebol e F1), não leio "revistas femininas", enfim. Aliás, já fui estranhada por isso. Será que sou mesmo mulher??? Até que ponto nos definem unicamente por estereótipos? Tenho amigos que não gostam de futebol, e não são menos homens por isso. Paro por aqui. Se escrever com a mesma intensidade que eu falo...

Abraços, Yúdice.

Yúdice Andrade disse...

Olá, Ádyla. Satisfação receber uma nova comentarista identificada por estas paragens e saber que meus pensamentos têm sido compartilhados por outras pessoas, em seus próprios devaneios.
Pondo-me um pouco no seu lugar, já tive muitos problemas por não gostar de coisas das quais, supostamente, todo homem deve gostar. A começar pelo futebol. Dá para imaginar os aborrecimentos que já tive.