domingo, 17 de junho de 2007

Parada do Orgulho Heterossexual

Uma semana depois da Parada do Orgulho Gay, em São Paulo, a maior do mundo, que contou com uma voraz cobertura da imprensa, uma meia dúzia de gatos pingados inaugurou, no vão livre do Museu de Arte de São Paulo — MASP, a primeira Parada do Orgulho Heterossexual, com o slogan "Muitos são, poucos se orgulham". Não critique antes de ler mais aqui.
Como os organizadores juram de pés juntos que o movimento é democrático e que não apoia nenhuma iniciativa homofóbica, até gostei um pouco da ideia. E acho que têm razão quando questionam o uso de dinheiro público para subvencionar o evento gay. Não é que não possa: apenas a distribuição de dinheiro precisa ser repensada.
Quem me conhece sabe de minha antipatia por políticas de gênero. Mas a maioria esmagadora das pessoas com quem falo a respeito não compreende o meu ponto de vista, me critica e até me tacha de preconceituoso. Tento esclarecer que, muitas vezes, tais políticas acabam reforçando os preconceitos amargados pelas chamadas minorias sociais. Quando se tenta provar que as mulheres são iguais aos homens e que os negros são iguais aos brancos, p. ex., a premissa implícita da afirmação é de que mulheres e negros são inferiores. Bem poucas pessoas conseguem colocar a questão em termos adequados.
Enfim, os setores sociais tradicionalmente discriminados merecem ações concretas do Estado para reverter tal situação, claramente injusta. Entretanto, não pode ocorrer o que hoje ocorre: as ações afirmativas em favor da mulher marginalizam o homem, como se ele fosse sempre um violento malfeitor. As ações em prol do negro tratam o branco como se fossem todos raistas e saudosos da escravidão. As ações de afirmação gay partem do pressuposto de que todo hétero é frustrado, enrustido ou homofóbico de carteirinha.
Com isso, o que deveriam ser movimentos de libertação se tornam novos instrumentos de discriminação, de ódio e perseguição. E quanto a isto, definitivamente sou contra.

Acréscimo em 21.9.2011
Passados cinco anos, preciso reconhecer que a conjuntura mudou. Ações homofóbicas violentas se tornaram tão comuns que reforçaram a luta pela igualdade. De permeio, indivíduos altamente equivocados (para dizer o mínimo), quando não desvairados, alguns com mandatos políticos, tomaram medidas tão alucinadas nesse campo que, hoje, não é mais possível demonstrar alguma simpatia por movimentos pró-heresossexuais sem cair na vala comum da extrema-direita.
Assim, declaro que esta postagem já não exprime o meu ponto de vista.

8 comentários:

Aldrin Leal disse...

Yudice,

Eu apoio, em genero (sem trocadilho), numero, e grau. É surreal eu, na condição de pessoa sensata que sou (apesar de ser uma espécie em extinção), ter que lembrar que Democracia não é um governo de minorias.

Falando em espécie em extinção, permita-me compartilhar este refrão de uma letra:

"Salve salve,
Salve salve,
O cabra macho em extinção,
Pois do jeito que a coisa tá indo,
Só sobra viado e sapatão"

Bom Dia!

-- Aldrin Leal, Sensato, Macho, e da Raça Bege.
p/S: Agora sou obrigado a defender meus direitos nas cotas. Não sou branco, não sou pardo, não sou amarelo. Sou bege.

Anônimo disse...

A sua observação não poderia ser mais pertinente, no momento que governo do PT, com pensamento semelhante aos de FIDEL, CHAVES e EVO, instala no país várias ações para diminuir as desigualdades.
Acho que para diminuir as desigualdades, não deveremos diminuir o que foi conquistado por alguns, independente de raça, posição social e religião.
Os países governados pelos cidadãos acima descritos tem uma mentalidade de nivelar por baixo, enquanto que o certo seria tentar nivelar por cima.
No caso das cotas por exemplo, o que vai acontecer é que não mais será o ensino básico o único de má qualidade, o superior também será, devido a inclusão de pessoas despreparadas, sendo brancos, negros ou amarelos, basta ter que estudar em uma escola pública.
É tão óbvio, que dando uma educação de qualidade para a classe mais desfavorecidas, eles terão como concorrer com igualdade com os de escolas particulares.Eles não são burros, portanto só precisam de oportunidade para criar uma base de conhecimento sustentável.
È sabido que até pouco tempo as grandes cabeças de nosso estado, sairam de escolas públicas.
Os negros não entram nas universidades porque são negros, pois nas inscrições não mencionam a raça do candidato, e nem tão pouco nos concursos públicos em geral.
Assim como é dito em seu texto que os heteros estão se sentindo excluídos, acontece também com as pessoas que conseguiram conquistar com dignidade uma posição melhor na vida, acharem que estão ao manifestar seu poder ou posição social, ofendendo aos que ainda não conseguiram o mesmo. E não pode ser assim.
Acontece comigo, em alguns momentos em que me sinto constrangida em adquirir um bem novo, gastar uma grana em um bom restaurante, perante a pessoas menos aquinhoadas que me cercam, porém, tudo que conquistei foi com meu trabalho, então porque me envergonhar.

Yúdice Andrade disse...

Grato pelas contribuições, prezados. Aldrin, vou pensar sobre essa coisa de bege. Ana Paula, tenho sentimentos muito parecidos aos seus, às vezes.

Anônimo disse...

ainda bem que vocês se envergonham, sinal de que não perderam a sensibilidade vivendo em uma sociedade injusta como a nossa. alias vcs também deveriam se envergonhar ao fazer comentários tão rasos sobre um troço tão complexo como as políticas afirmativas. no assunto em questão, vocês estão evidentemente boiando. informação sobre o assunto de qualidade, contra e a favor, não falta. tudo está a um google de distância de vocês. aprofundem-se por favor. e não venham repetir o discurso de ali "não somos racistas" kamel antes de saber bem a quem estão se alinhando.

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, quem escreve o que quer, lê o que não quer. Vamos lá:
1. Você é um rematado idiota. Deveria pensar duas vezes antes de vir na minha própria casa me esculachar, sem ter, você, maiores informações.
2. Eu sabia que isso ia acontecer, mas deixei. Tanto que fiz questão de publicar seu comentário. Mas olhe lá o que pus no texto original: "a maioria esmagadora das pessoas com quem falo a respeito não compreende o meu ponto de vista, me critica e até me tacha de preconceituoso." Foi o que você fez.
3. Desde a faculdade eu já voltava os meus olhos para os setores desfavorecidos da sociedade. Meus trabalhos acadêmicos, hoje perdidos, tinham esse viés. Meu TCC abordava o tema do desenvolvimento sustentável (isso há mais de dez anos), porque eu não suportava a idéia de o uso dos recursos ambientais favorecer os ricos e piorar as condições de vida dos pobres.
4. Ao invés de se concentrar na postagem que doeu no seu calo, dê-se ao trabalho de ler mais um pouco do blog. Verá que tipo de preocupações tenho. Não as mencionarei porque não sou político, graças a Deus; não estou em campanha para nada. Minhas idéias estão aí expostas ao julgamento de todos. Leia e veja, se é que seu cérebro limitado permite, se não tenho feito inúmeras manifestações em favor de pessoas desfavorecidas por doença, pelo crime, pelo abandono, pela omissão dos poderes públicos, etc.
5. Raso é você, quando supõe que em poucas linhas eu disse tudo o que sei ou penso sobre políticas afirmativas. Esse nem era o tema central da postagem, por isso não quis demorar nele. Essa falta de percepção e bom senso já compromete a sua crítica.
6. Ainda na faculdade, participei de um grupo de extensão com ligações com o movimento pró-habitação na cidade. Já formado, trabalhei na Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos, à qual estão vinculadas as organizações de direitos humanos, de direitos dos homossexuais, das mulheres, dos negros. Lidei com todos eles, amistosamente e com os olhos voltados para políticas públicas que pudessem ser úteis. Em minhas aulas, volta e meia digo a meus alunos da importância de serem comprometidos com o lado mais carente da sociedade, em vez de usarem o Direito apenas em benefício próprio. Mas você não sabe disso. Você só está ofendidinho.
7. Agastam-me sobremaneira as pessoas incapazes, por ignorância, má fé ou pobreza de espírito, de dialogar porque não conseguem, sequer, entender do que estamos realmente falando. E você não sabe do que estou falando. Não sou e nunca foi machista, racista ou homofóbico. E não passarei a ser só porque você, em sua sapiência de giárdia, decretou que sou.
8. No final das contas, a explicação deve ser esta: você é gay e se ofendeu com o que lhe pareceu uma postura de rejeição aos homossexuais. Azar o seu. Faço terapia há sete anos e há duras penas comecei a separar o que é meu e o que é dos outros. A sua dor é sua, não minha. Não tenho a menor obrigação de guiar os meus atos pelo que você espera de mim. Procure ajuda quanto aos seus complexos.
9. Não estou alinhado a ninguém relacionado a esse movimento. Apenas li a matéria pela internet e dei divulgação. Assim como divulgo freqüentemente sobre crimes. Sua mente rápida no gatilho deve concluir que sou um serial killer, talvez. Falo de arte e não tenho pendores para nenhuma delas, infelizmente.
10. Por fim, desde que eu não me torne propagador do mal a quem quer que seja, posso me alinhar a qualquer corrente de pensamento, certo? Este é um país livre, supostamente. Vivo batendo nos fumantes e eles ainda voltam aqui para me ler. Já falei mal de futebol e seus torcedores, mas ninguém me atacou por isso. É isso. Os fumantes e os loucos por futebol têm a cabeça mais no lugar que você.
Isto é um pouquinho do que tinha a lhe dizer. Por falta de tempo, paro aqui. Cresça e aprenda a ser feliz num mundo em que as pessoas, durante a maior parte do tempo, farão coisas que você desaprova e nem por isso a vida se tornará inviável.

Anônimo disse...

puxa vida, sr yúdice. não precisava descer assim das tamancas. leia com atenção o que escrevi: não lhe chamei de imbecil, nem de idiota, nem de preconceituoso, nem de ignorante, nem de infantil, nem de homofóbico, nem de machista, nem de racista. alguns desses epítetos o sr os aplicou a mim, mas não tem problema. não que eu acredite nesse papo de que a ofensa tá no coração do ofendido, mas também não vou brigar por tão pouco. o que EU disse, apenas, é que seu texto sobre as cotas é raso, tendo atraído comentários rasos também. se alinhar a ali "não sou racista" kamel é problema seu, só espero que o senhor saiba o que isso significa, ainda mais para uma pessoa com a sua história. uma ressalva: sou dos seus leitores mais assíduos, estou aqui todos os dias, discordo de algumas poucas coisas e raramente me manifesto. jamais pensei no senhor como um reacionário, nem precisava desfiar seu belo currículo aí em cima. talvez o meu próprio comentário tenha sido raso, mas o sentido dele era alertá-lo para o tipo de companhia que o sr atrai com opiniões mal-fundamentadas sobre assuntos importantes. não vale a pena ir mais fundo nisso, o sr mesmo deu a deixa: certas reações gigantes a pequenas críticas, só freud explica.

Yúdice Andrade disse...

Anônimo, eu esperava a sua resposta mas, confesso, ela veio com tanta honestidade e elegância que me desarmei. Até coloquei a temperança em destaque - eu, que não gosto de tarôs e astrologias -, apenas para lembrar que precisamos de mais serenidade nas coisas que fazemos.
Considero seu arrazoado justo e bem articulado. Você, de fato, não me chamou das coisas que listou. E acho que o comentário sobre atrair coisas de certo nível é muito pertinente. Ao final, levando a coisa para o lado psicológico, tenho mesmo que lhe dar razão.
Portanto, em nome da temperança - como emoção humana, nada a ver com astrologia -, peço que aceite minhas sinceras desculpas pelos excessos verbais.
Mantenho o que disse no que tange, estritamente, ao mérito. A forma, desconsidere. E aproveite que, como anônimo, ninguém saberá quem foi ofendido. Só eu passarei publicamente por mal educado. Mas estou tão consciente disso que fiz questão de publicar o seu comentário e fazer esta mea culpa. E vou além: farei melhor triagem de minhas fontes.
Saudações com temperança.

Aldrin Leal disse...

Anonimo,

Politica Afirmativa, pra mim, é organizar movimentos para os negros fazerem com que mais negros ingressem na universidade. Isto, pra mim, é afirmativa. O que vejo, hoje, é uma política avestruz: ela finge que não vê um impasse, e esconde os seus olhares, atrapalhando quem estiver no caminho.

ONGs, em tese, são para isso. Porém , eis que caímos numa armadilha: No Brasil, ONG é sinônimo de trambique. Enfim, isto já é caso de puliça (soletrando: pê u ele i cecedrila á)

Democracia é um governo aonde a maioria decide. E até aonde eu saiba, não fui consultado. O que vemos hoje, infelizmente, é o surgimento de uma nova classe: Os burgueses do capital alheio. É uma variante do princípio do Déspota Esclarecido, misturado com o conceito original do Ministério da Propaganda do Goebbels: Ele é soberano, aceite sua opinião, e não discuta, senão você não é "patriota", "republicano", e sim "denuncista".

(Ok, eu dei uma de despota e invoquei a Lei de Godwin. A discussão tava alongando, quis ter a oportidade de ser o primeiro a cometer esta leviandade absurda)