Outro dia, acessei minha página no Orkut — coisa que hoje faço muito pouco, já que meu tempo livre de Internet é destinado ao blog. Na relação de pessoas que haviam me visitado, constava um Adilson José. Desconhecendo de quem se tratava, fui até a página dele para conferir. Abriu um desses perfis criados apenas para o indivíduo poder fuxicar a vida alheia sem ser identificado — os chamados fakes, já que tudo precisa ser nominado em inglês. Normalmente, tais fakes são desprovidos de informações, amigos ou recados. Chamou-me a atenção, contudo, que esse possuía mais de três mil recados. Resolvi ver o que lhe escreviam.
Em síntese, aquelas milhares de pessoas agiam com um único e mesmo propósito: questionar o sedizente Adilson José sobre o motivo de fiscalizar-lhes as páginas. Muitos escreviam coisas engraçadas, reclamações espirituosas, p. ex. Ri mais de uma vez. Outros agradeciam a visita e até escreviam um "volte sempre". Uns tantos escreviam coisas do tipo "espero que tenha encontrado o que procurava". Havia os que desejam paz, saúde, as bênçãos de Deus e externavam um sentimento de fraternidade.
A maioria, contudo, reagia de maneira furiosa à bisbilhotice. Os palavrões vinham aos borbotões. Outros não se utilizavam de palavras de baixo calão, mas injuriavam o Adilson de idiota, babaca ou diziam ter pena dele por precisar fazer o que fazia. Demonstravam o desejo de não serem examinados.
Sou daqueles que acreditam que Orkut é exposição. Quem se bota nele não pode exigir privacidade, mas pode exigir respeito. Não me importo nenhum pouco que vejam minhas fotos ou leiam os meus recados. Se eu as pus ou os mantive visíveis, sou obrigado a aceitar que sejam vistos e revistos. A curiosidade alheia pode ser mórbida, mas ela existe e estou consciente disso. Se você não gosta, convenhamos, é melhor sair. Simples assim.
Respeito, porém, é indispensável. Não destrato as pessoas e não admito que o façam. Por isso abandonei o hábito de visitar as comunidades orkúticas. Boa parte delas é só baixaria, principalmente se falam de política. Sem nível na discussão, não consigo fazer algo que não tenha a menor utilidade. Deixei de visitar e agora exponho meus pensamentos no blog, ambiente em que os debates são de outra natureza. Se alguém perder as estribeiras, recuso o comentário e ponto final. Só aconteceu umas duas vezes até hoje.
Como é estranha a natureza humana! O sujeito se exibe, mas não quer ser visto. Que incoerência! Entretanto, de lastimar-se, mesmo, é o vazio na vida de certas pessoas, que gastam um tempo enorme, visitando mais de três mil páginas de estranhos, em busca do quê? De si mesmos, talvez?
Deus te abençoe, Adilson. Estás precisando.
2 comentários:
Maravilhosa postagem, Sr. Yúdice! Meus parabéns! Você escreveu exatamente o que sempre tento dizer aos colegas de internet. Faço de suas palavras as minhas. Um grande abraço!
Fico feliz por ter traduzido uma impressão da qual também compartilhas. Até porque alguns amigos só param para pensar em certas coisas quando um estranho diz. Espero que o texto te ajude com os teus.
PS - Achei esse "Sr. Yúdice" muito divertido. Pode ser só Yúdice, mesmo.
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