sexta-feira, 1 de junho de 2007

A armadilha das palavras

"Homofobia" é um neologismo criado em 1971 que expressaria ódio, descriminação ou aversão de uma pessoa contra homossexuais. Assim, qualquer pessoa contrária ao homossexualismo ou ao movimento homossexual passou a ser taxada de "homofóbica".
A palavra adotada não poderia ser mais enganadora. Fobia significa simplesmente terror, medo irracional de algo. Homofobia seria, nesse sentido, terror a homossexuais. Na vida cotidiana, torna-se quase impossível imaginar alguém que trema de medo na presença de um homossexual. No DSM, há previsão de várias fobias, como fobia social, agorafobia, medo de insetos, de sangue, de aviões, etc. Porém, não há previsão de homofobia.
A utilização do termo leva ao preconceito contra todos aqueles que não compartilham do ideário homossexual. Existem, há séculos, respeitáveis opiniões contrárias de fontes religiosas, culturais ou filosóficas. Com essa denominação, os oponentes do homossexualismo como prática passam a serem vistos como doentes mentais, ou seja, como portadores de um distúrbio que deve ser clinicamente tratado (aliás, já existe esse tratamento nos Estados Unidos!).
A contradição está evidente: ao mesmo tempo em que se comemora o "aval científico" para o homossexualismo, utiliza-se uma denominação pseudocientífica para estigmatizar aqueles que são contrários a ele.
O governo brasileiro já fez sua parte: lançou, em 2004, o programa "Brasil sem Homofobia". Viu-se que "homofobia" tem dois sentidos: o primeiro, criado pelo movimento gay (discordância com suas idéias), e outro mais próximo da Psiquiatria (medo mórbido de homossexuais). De acordo com o primeiro conceito, a população brasileira em massa é "homofóbica", pois o cristianismo, que é contrário à prática homossexual, está profundamente entranhado na cultura nacional. Pelo segundo conceito, o programa combate o nada, pois não somos "homofóbicos". No Brasil, o preconceito (ou seria conceito?) contra homossexuais manifesta-se da forma mais inofensiva possível: a piada. Raríssimos são os casos de violência contra um homossexual apenas pelo fato de ele ser homossexual. Nesse tema, as estatísticas têm sua interpretação freqüentemente deturpada, como se todos os casos de violência contra homossexuais tivessem como causa o ódio a homossexuais. Para isso, seria necessária uma pesquisa das motivações do criminoso em cada caso, o que nunca foi feito.

Trecho do artigo "A armadilha totalitária nos 'crimes de homofobia'", de Alexandre Magno Fernandes Moreira Aguiar. Vale ler na íntegra, para ver um exemplo do esforço que certas pessoas fazem para dar vazão a suas prevenções particulares, travestindo-as entretanto de argumentos aparentemente isentos — científicos, jurídicos, éticos, etc.
Por mais que o autor pretenda demonstrar o contrário, seu texto destila homofobia, seja esse termo correto ou não. Desejoso de convencer, vale-se do argumento de autoridade, aquela figura retórica que se utiliza quando se quer emprestar maior dignidade às idéias expostas; no caso desse artigo, por meio de uma suposta familiaridade com a Psiquiatria.
O discurso sub-liminar fica evidente quando o autor, comentando um projeto de lei, comete um erro a meu ver elementar, ao propor que qualquer manifestação supostamente ofensiva a gays ou religiosos ou a outras categorias seria considerada crime, se aprovada a medida pelo Congresso Nacional. Ignora, assim, que toda conduta, para ser criminosa, deverá ser dolosa. Sem dolo, no exercício do direito constitucional de livre expressão, podemos hoje, e continuaremos podendo mesmo que tal proposta seja aprovada, externar nossas opiniões contrárias, ainda que enfáticas, contra religiões, políticas e outros objetos, inclusive o homossexualismo.
Se o autor tem algum problema com o homossexualismo, zelaria mais por sua credibilidade se o declarasse claramente. Assim, ganharia asseclas e opositores, mas todos com conhecimento de causa. Melhor do que fazer raciocínios pueris, tais como "o preconceito (ou seria conceito?) contra homossexuais manifesta-se da forma mais inofensiva possível: a piada".
Esse excerto, sozinho, mostra a que veio o autor. Além de revelar que não considera a oposição ao homossexualismo como preconceito (seria, talvez, uma condição natural do ser?), sugere que uma piada é uma manifestação inocente, sempre e em qualquer caso. Imagino que os psicólogos teriam um ataque lendo isso. Afinal, com piadas podemos causar danos imensos a pessoas emocionalmente frágeis.
Quando eu quiser criticar alguma coisa, estejam certos, eu o direi expressamente.

2 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

Nada contra os homossexuais. Tudo contra o deboche, a falta de compostura social e o desrespeito; tanto quanto para os hetero. O que é dele ele dá pra quem ele quiser que eu não tenho nada a ver com isso, e nem há lei que o proiba.
Que se dane a falsa moral dos cristãos.

Unknown disse...

Ainda diria que o termo não é o mais adequado só em relação ao sufixo, mas também ao prefixo, pois "homo", até onde eu sei, é sinônimo de igual. Desta forma, ao se levar "ao pé da letra", pode-se levar a falsa impressão que seria esse medo sem justificativa, incontrolável, em relação ao que é igual, aos iguais, logo seria um termo um tanto (para não dizer muito) estranho.